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Grupo celebra 30 anos de trajetória com exercício de “memória viva” e se coloca diante de um mundo e um país em crise

Criado no início da década de 1990, por bancárias, bancários e estudantes, o grupo Boca de Baco chegou aos 30 anos a bordo de um projeto que prevê montagem de espetáculo, oficinas teatrais, festas (após a pandemia), registro histórico e ações de mídia.

O projeto traz as marcas do tempo presente: a pandemia do Coronavírus, a crise agônica pela qual passa o país e as profundas transformações culturais e tecnológicas vividas no mundo. “Mais do que nos reunir virtualmente por causa da pandemia, estamos refletindo e criando em meio à tempestade da nossa época”, aponta a atriz e jornalista Jackeline Seglin, que também é produtora executiva do projeto.

De acordo com o ator e bancário Beto Passini, a bússola dessa travessia é a “memória viva” do grupo. “Não se trata apenas de recordações, saudosismo. Queremos fazer um mergulho profundo nas emoções, valores e ideias que nos constituem. Nos deter nas transformações por que todos passamos. Munidos dessa memória viva, vamos nos colocar no palco, olho no olho de um país e um mundo em crise”, diz Passini.

‌O grupo está fazendo esse exercício de “memória viva” desde março de 2020. Em reuniões virtuais, integrantes novos e de outras fases do grupo se debruçaram sobre a “jornada de heróis e heroínas” de mitos e tragédias gregas. O fio condutor é o adivinho e cego Tirésias, personagem secundário que atravessa a jornada de figuras mitológicas como Narciso, Édipo, Antígona, Baco. 

“Tirésias funciona como um espelho invertido para essas figuras, que passam a olhar para a profundidade de si mesmos e assim passam por provações e realizam as transformações que marcam a jornada de heroínas e heróis”, explica Luciano Bitencourt, jornalista aposentado, deficiente visual e um dos fundadores do Boca de Baco.

‌As reflexões sobre o mito servem de base para os participantes do projeto recontarem suas próprias histórias de vida. Essa “prospecção” de histórias é feita sob a coordenação do diretor Luiz Valcazaras (SP), que trabalha com o grupo há 20 anos com a metodologia “Contadores de Imagens”, do seu NITe (Núcleo de Investigação Teatral). 

As histórias pessoais, “refletidas no espelho de Tirésias”, serviram tanto à dramaturgia da futura montagem, criada por Renato Forin Jr, dramaturgo e pesquisador teatral de Londrina, como também ao trabalho de atores e atrizes. Também participam da primeira etapa deste projeto Antônio Júnior, Fátima Sgrignoli Carreri, Nivaldo Lino, Reinaldo Zanardi, Silvia França e Simone Andrade.


Projeto 30 e Uns

O projeto dos 30 anos do Boca de Baco prevê registro histórico da trajetória do grupo e sua divulgação neste site e nas mídias sociais. São fotos, cartazes, programas, vídeos e matérias veiculadas na imprensa arquivados por três décadas pela jornalista Jackeline Seglin, da produtora Kan. 

“São recortes da memória do grupo. Mas também da história do teatro e da cultura de Londrina e do país. Sua divulgação vai interessar aos que se relacionaram com o Boca nesse tempo todo. Mas sobretudo a quem julga a arte e a cultura essenciais para as pessoas se movimentarem no mundo. A história do Boca é a de pessoas comuns que resolveram fazer coisas extraordinárias em suas vidas, tendo o palco como ponto de encontro”, avalia. Está prevista no cronograma do projeto a realização de oficinas teatrais e festas comemorativas, suspensas por causa da pandemia.

O projeto Boca de Baco 30 Anos tem patrocínio da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), entidade que apoia o grupo desde sua fundação e que, em 2021, também celebra 50 anos.